sexta-feira, 13 de maio de 2011

RENATA CORREIA BOTELHO

A SETA


para o meu pai

o tempo, espelho tosco com que
fintamos a morte, apontado para nós
como a lança do arqueiro;

hesita, por um instante apenas,
para depois avançar, implacável
e sem retorno, na nossa direcção.

mas a feroz verdade da seta
(a um brevíssimo suspiro do embate)
é aplacada pela memória,

um libertador bater de asas
que nos recolhe das águas
quando a tempestade nos arrasta.


Resumo: A poesia em 2010 [de Small song], org. José Alberto Oliveira, José Tolentino Mendonça, Luís Miguel Queirós e Manuel de Freitas, Assírio & Alvim, Lisboa, 2011.