sexta-feira, 20 de outubro de 2017

EDUARDA CHIOTE

ESCULTURA


Prepara apenas o caminho
de ruptura
e não me digas do escuro,
do logro,
não me digas do engano
nunca,
nunca mais me fales assim da tua
própria voz.
O seu espírito
irá cinzelar
a carne,
a aflição das aves — seu longínquo
voo.
Este suspender-se-á
na mudez
de um palhaço,
na alma de um menino
de noite.
E dizendo-lhe é assim mesmo,
nada a fazer — pois mimo apenas,
e em minha
face roída
pela boca,
o sangue
que antecedeu a respiração
dos pássaros escondidos.
Na palavra
que mais não emite
nenhum sopro.


Não me morras, & etc, Lisboa, 2004.