quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

ANTÓNIO AMARAL TAVARES

[A LOUCURA DAS FORMIGAS]


A loucura das formigas
traz outras incertezas do medo
e da sua estirpe de fantasmas.

O desarrumo é uma nuvem incandescente
onde soa a vozearia escura da cidade
e se fecham os gestos que esbofeteiam o ar
frente à finitude dos espelhos.

Os dedos das formigas tecem
filigranas loucas nos olhos abertos
pela luz e pelo fumo.

Um corpo em saldo
para os comerciantes de gente

os canibais de sempre
que os cravam como borboletas
nas grades das suas próprias prisões.


The book of refugees, org. de Carlos Júlio, Luís Januário e Sofia Lobo, Pescada n.º 5, Coimbra, 2017.