CASTELO DO REI
Não passa de um retrato pintado por João
Baptista Ribeiro, nem sequer excelente, datado de
1828. Nesse ano os três estados do reino aclamam
Miguel, rei absoluto. Homenagem,
e também paixão, sobre o tempo inteiro
vencido. Sei de quem o visite e fique preso a uma
franja do tecido da camisa; parece papel transparente,
lágrima sobre a mão direita
que segura o ceptro. O nariz levemente aquilino,
suave castanho o olhar
e os lábios – pesaram todas as palavras no exílio
a enganosa derrota dos ritos, e da morte
quando se chega a um cais estrangeiro de mãos
vazias. No grande rumor da outra margem
ninguém sabe quem é dono do seu fogo
parou o rei debaixo de uma árvore
o sentido e o destino têm a cor da face honrada
os banqueiros, a usura, trazem as chaves
descarregam nos vestíbulos de pedra negra a infelicidade.
Castelos: I a XXXV, Averno, Lisboa, 2004.
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