CAFÉ CASTRO
com cigarros dando para altos janelões
com garrafas soturnas canções vazias
medito em esquemas falhos de viabilidade
financeira – são um descanso estas imaginações
diletantes e portuguesas na recuada
cidade de Budapeste
permitem chegar apenas a este lugar isolado
ao plano B: texto que o autor não
burila no interior do café
mas proponho-lhe:
esqueça tudo isto os cartazes cubanos a empregada
curiosa e loira e avance para o poema seguinte
sem grandes remorsos
evitará demorar-se num desenho de nuvens
no tecto de um quarto (qual?)
festejar o fim de nenhuma vindima
aperceber-se do erro juvenil que é fechar um poema
com a palavra morte
sobretudo não lhe falarei de Walt Whitman
ou David Beckham
mas depois, peço-lhe
atrase-se outra vez suspenda por um momento a leitura
num desses gestos vazios: coçar a cabeça
coçar o queixo
espere que este autor recupere de novo terreno
e partamos os dois para baixo – haverá outro sítio? –
para o poema seguinte
Quando escreve descalça-se, Trama, Lisboa, 2008.
Há 2 horas