SÃO MARTINHO
Tenho atrás de mim um bar
e à frente um cemitério.
Assim (na opinião de uma amigo)
deveria terminar não apenas o postal
mas um poema que não escrevi.
Serviam, para acompanhar as cervejas,
batatas a murro tão frias como eu.
Talvez o postal bastasse, agora que
a igreja velha, onde o meu pai
aprendeu música, já só abre
para velórios — diariamente, portanto.
Calado, à minha frente, um cemitério
– e, apenas um pouco atrás,
canções que vêm morrer
junto ao balcão do bar
não sei por quanto tempo.
Boa Morte, edição do Autor, Lisboa, 2008.
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