domingo, 15 de fevereiro de 2009

DAVID TELES PEREIRA

CÉLINE

para a Julie

A vida tem destes acasos literários:
um comboio, dois livros e a pior
das razões para nos apaixonarmos.
Tenho vinte e dois anos e o equivalente
em retratos teus – periféricos ou não –
catalogados de acordo com as horas psicologicamente
intermináveis do teu sorriso.

O nosso amor é como o lado vazio duma ampulheta,
ou seja, inverso ao próprio tempo que não marca
o surgir inesperado daquelas noites em que tudo acontece
numa peça de teatro à qual nunca comparecemos.

As tuas mãos são um jardim demasiado inconstante
para fazer fila e esperar a morte. Tens seis letras no nome
e antes que amanheça saberei em que lugar do meu corpo
cada uma delas cabe.


Criatura, n.º 2, Núcleo Autónomo Calíope da Faculdade de Direito de Lisboa, 2008.