quarta-feira, 29 de julho de 2009

ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE

[HOJE QUE ME SINTO]


hoje que me sinto
perfeitamente morto,
seria o bom momento de romper
a membrana celeste, implacável de azul,
sair, independente, para o lugar de pensamentos
lúcidos, quase reais! mas

fico preso à gangrena, o precioso
lugar dos músculos na carne,
e a memória do prazer mistura-se ao redondo
fio do horizonte;
não estou, afinal, senão vazio de todos os corpos,
apenas alheado das maquinações e dos

encontros. Deixo ficar a paisagem como está,
quando não olho é que as árvores se iluminam por dentro.


A Perspectiva da Morte (de As Moradas 1 a 3), org. Manuel de Freitas, Assírio & Alvim, Lisboa, 2009.